Verde na Corda Bamba

quinta-feira, 27 de março de 2008

Transcrevendo Bruno Nogueira

A Falta da Lei da Vida

"De tudo o que me faz pensar, há uma coisa que me atropela a cabeça.
A idade.
Não a minha, a deles. Há qualquer coisa que rasga.
Choram-me as estatísticas que eu estarei cá quando os meus pais não estiverem.
Muito nublado, bem sei. Mas real.Posso tê-los agora, e abraçá-los com a carne que me deram, mas...e depois?
Vejo-lhes os anos na pele e a pele dá-me saudades.
Saudades do que não vou ter. É a lei da vida, e todas as frases feitas que pregarem nas paredes.
Mas a saúde teima em ir à sua vida cedo demais.
Não a deles, a das estatísticas.Hoje tenho-os ali.
Visto daqui, dos meus olhos, não envelheceram. Foram emprestando um ou outro ano aos ossos.
Quero o meu pai a ficar envergonhado quando diz "gosto muito de ti filho" e a minha mãe com gotas de amor a marcar passo nos olhos quando diz "gosto muito de ti filho, nunca te esqueças disso" Nunca te esqueças disso.
E depois, o que fica?As memórias não são de carne, são de lágrimas. E essas custam mais a abraçar.Há qualquer coisa que rasga, eu bem disse.
Sei que estão na casa dos sessentas.
Mais precisão do que essa acelera-me o sangue."São novos".
E porque é que não ficam sempre assim?Atrasem o relógio quarenta anos, vá lá. Só desta vez, ninguém vai dizer nada à terra.
Apetece deixar cair uma pedra na roda dentada e parar tudo.
A assobiar, para não ter de prestar contas.
A palavra filho é patente deles. Quando a dizem há uma manta que protege o coração até cima.
Depois da estatística fica só o coração e a manta enrolada aos pés. Podemos sempre puxá-la, mas nunca mais vai tapar tudo.
E não, nunca me esqueço disso."


EU NÃO FARIA MELHOR. OBRIGADA BRUNO!